quinta-feira, 1 de outubro de 2015

FILHA DA FLORESTA (Sevenwaters #1)

“Passada no crepúsculo celta da velha Irlanda, quando o mito era lei, e a magia uma força da natureza, essa é a história de Sorcha, a sétima filha de um sétimo filho, e dos seus seis amados irmãos, vítimas de uma terrível maldição que somente Sorcha é capaz de quebrar. Em sua difícil tarefa, imposta pelos Seres da Floresta, a jovem se vê dividida entre o dever, que significa a quebra do encantamento que aprisiona seus irmãos, e um amor cada vez mais forte, e proibido, pelo guerreiro que lhe prometeu proteção.”

FILHA DA FLORESTA (Sevenwaters #01)
Juliet Marillier
608 páginas
Editora Butterfly



Sabe aquele sentimento maravilhoso quando você encontra um livro que entra na sua lista de favoritos de todos os tempos? É uma ocasião rara. Há muitos livros bons por aí (e outros tantos de medíocres a terríveis), mas do tipo que te dá vontade de converter cada amigo e conhecido em um leitor? Do tipo que te deixa pensando sobre a história que você acabou de ler muito tempo depois dela acabar? Aqueles que criam uma conexão emocional sua com as personagens e te fazem desejar que você os conhecesse e pudesse dar um abraço em cada um e dizer “vai ficar tudo bem”?  Esses livros são poucos. E, quando você encontra um deles, é seu papel espalhar o amor pelo mundo (tô vivendo uma fase hippie, não liguem). São histórias como essa e a possibilidade de passá-las adiante o que me motivou a iniciar um blog literário em primeiro lugar.

Tenho dificuldades de escrever resenhas de livros que eu gosto. É sempre mais fácil escrever críticas negativas do que positivas, mas estou tentando trabalhar nisso. Dê-me um voto de confiança, vai. Então dá um play na música celta, pega suas runas druidas, coloca o kilt (ok, esse é escocês, mas não vamos ser preciosistas) e vem comigo.


“Filha da Floresta” é o primeiro livro da inicialmente trilogia “Sevenwaters”. Foi lançado em 2000 e a partir dele vieram “Filho das Sombras” e “Filha da Profecia” como parte dos três livros inicialmente planejados pela autora, a neozelandesa Julliet Marillier. Alguns anos depois ela retomou o universo de Sevenwaters com “Herdeiro de Sevenwaters” e, ainda, “Seer of Sevenwaters” e “Flame of Sevenwaters” (esses dois últimos ainda indisponíveis no Brasil e sem tradução para o português). Cada um dos livros da série possui uma nova protagonista e apresenta gerações diferentes das (fortes) mulheres da família residente em Sevenwaters, um feudo no coração de uma floresta da antiga Irlanda, onde as tradições celtas ainda são honradas apesar do avanço do cristianismo na região. E uma das coisas mais legais da série é rever personagens com os quais você se conectou em livros anteriores reprisarem seus papéis com mais ou menos destaque.

Juliet Marrilier é muito feliz ao tecer histórias que misturam fantasia com pitadas de acontecimentos históricos, como as disputas entre os bretões e os irlandeses, além dos povos nórdicos, pelo controle das ilhas que hoje são parte do Reino Unido e Irlanda ou ainda a expansão da fé cristã que pouco a pouco suplantou as crenças druidas na velha Irlanda. A autora constrói uma narrativa cheia de elementos mágicos, mas sempre crível e bem contextualizada com uma realidade histórica real. Não é sem motivo que ela é considerada a herdeira de Marion Ziegler Bradley.

A narrativa de “Filha da Floresta” tem como alicerce o conto de fadas “Os cisnes selvagens” de Hans Christian Andersen. Mas não estamos falando de um conto de fadas fofinho ao estilo Disney. A autora aproveitou bem seu material de origem e o transformou numa jornada épica e de partir o coração. O livro trabalha maravilhosamente bem temas como família, dever e sacrifício.

De maneira muito simplista, porque longe de mim atrapalhar a experiência maravilhosa que “Filha da Floresta” tem a oferecer para vocês, o livro narra a história de Sorcha, a sétima filha da família que governa Sevenwaters, um feudo abrigado pela floresta na antiga Irlanda. A mãe de Sorcha morreu no parto e ela foi criada pelo seu pai, Lorde Collum, e seus seis irmãos mais velhos, todos de personalidade distinta (mas encantadoras a sua maneira). Sorcha pode não ser o que se espera de uma dama de uma família abastada, afinal tecidos e bordados nunca foram sua prioridade, mas desde pequena demonstrou grande interesse pela aplicação medicinal de plantas e se transformou em uma jovem e talentosa curandeira.

Acreditando que uma figura materna fará bem à Sorcha e seus irmãos, Lorde Collum casa-se com Lady Oohnagh, que se revela uma feiticeira e lança um feitiço sobre os irmãos. Sorcha é a única a escapar e recebe uma difícil missão a ser cumprida para libertá-los. Em sua jornada, ela conhece Red, um bretão que acredita que Sorcha pode ser a chave para descobrir o que ocorreu com seu irmão, Simon, que desapareceu após uma excursão militar próxima as terras da família de Sorcha. E o destino de ambos se entrelaça a partir daí.

Essa é a premissa básica da histórica, mas tão satisfatória quanto a narrativa é a caracterização e desenvolvimento de personagens. Juliet dá uma aula. Sorcha é uma mulher forte e determinada e seu sofrimento na tentativa de cumprir a tarefa que irá libertar seus irmãos e palpável. E, apesar de tudo, ela persevera. Red, que talvez possua o papel de maior destaque na história após Sorcha, também é encantador e, honestamente, é tão bom ler sobre modelos masculinos positivos após uma longa lista de perseguidores e adeptos de relacionamentos abusivos que autores de YA vem nos vendendo como “príncipes” ultimamente. Isso sem falar em todo o núcleo de apoio que torna impossível não torcer por um final feliz daquele tipo bem açucarado...e a sofrer bem mais quando cada pedra no caminho parece tornar esse final mais distante.

“Filha da Floresta” não é só um dos melhores livros que eu li no ano, mas é um dos melhores livros que eu li na vida. Mais do que recomendado para qualquer um que aprecie boas histórias e personagens cativantes e complexos. Se você é fã de contos de fadas e livros como “As Brumas de Avalon” tem um lugar especial no seu coração, wait no more. Se joga e aproveita que a Editora Butterfly lançou toda a trilogia original de Sevenwaters, além do quarto livro da série, “Herdeiro de Sevenwaters” em terras tupiniquins.


Narrativa: 5/5
Desenvolvimento das personagens: 5/5
Fator X: Irlanda! Contos de Fadas! Brumas de Avalon feelings!

Avaliação Geral: 5/5



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